Ambição e contentamento

Qual a utilidade de planejar o que vou comer na semana que vem se eu não puder realmente aproveitar as refeições quando elas chegarem? Se estou tão ocupado planejando o que vou comer na semana que vem que não posso aproveitar plenamente o que estou comendo agora, estarei na mesma situação quando as refeições da próxima semana se tornarem o “agora”.
Alan Watts

Hoje em dia, se você disser que se satisfaz com pouco, corre o risco de ser visto de maneira negativa. Por outro lado, ter ambição tornou-se algo positivo, uma característica valorizada sobretudo nos ambientes profissionais. A ambição é vista como um motivador, como um motor para que as pessoas sejam mais produtivas, trabalhem mais, ganhem mais dinheiro e “conquistem” mais bens materiais ou status.

Não é difícil, então, entender porque a ambição é valorizada. Ela faz todo o sentido dentro de um sistema em que quanto mais as pessoas trabalham e produzem, mais aqueles que exploram o trabalho dos funcionários saem ganhando. Mas isso não quer dizer que a pessoa que trabalha excessivamente também ganhe. É possível que mesmo as compensações materiais que a pessoa ambiciosa obtém não cubram os custos físicos e emocionais de uma mentalidade voltada sempre para mais ganho.

Se olharmos de perto, percebemos que a ambição é baseada num sentido de falta, de que o que se tem num determinado momento não é bom nem suficiente: é preciso mais. Cria-se, então, um futuro ideal, em que a pessoa se visualiza conseguindo aquilo que deseja, seja uma casa, um carro ou um cargo, que então passa a ser perseguido. O problema é que, quando a nossa visão é sempre orientada para o futuro, nunca estamos satisfeitos, mesmo que esse futuro que desejamos chegue, pois nesse ponto já estaremos querendo outra coisa, numa busca sem fim.

A ambição pode, então, ser de fato um motivador para a ação, mas ela se baseia num olhar que foca apenas o que falta, tira nossa atenção do presente e não nos permite aproveitar aquilo que já temos. Se não paramos nunca para aproveitar aquilo que está presente hoje, tudo aquilo que conseguirmos com nossas atitudes não poderá nos fazer bem, e todo o nosso esforço será em vão. A ambição não faz sentido sem contentamento.

É bom desconfiarmos quando ouvimos que precisamos ser mais ambiciosos ou produtivos. Pois esse tipo de sugestão geralmente beneficia aqueles que ganham dinheiro através de nosso trabalho, não necessariamente nós mesmos. Agora, imagine se as pessoas passassem a se contentar mais com o que elas têm: talvez elas consumissem menos, talvez trabalhassem menos. Isso não seria “bom” para a economia. Mas certamente seria bom para as pessoas.

É importante, então, pensar em qual a direção das suas ambições. Elas são dirigidas para bens materiais ou status? Se forem, é porque provavelmente você acredita que essas coisas lhe trarão felicidade. Mas, então, talvez você possa direcionar sua ambição para simplesmente ser feliz. E aí, pode ser que você perceba que para ser feliz não precisa necessariamente disso tudo. Talvez você seja mais feliz simplesmente ajustando sua perspectiva, valorizando aquilo que você já tem, a sua vida como ela já é. Já pensou que surpresa seria descobrir que tudo aquilo que você precisa para ter uma vida boa está presente nela hoje, e não apenas num distante futuro ideal?

3 Comentários

  1. Pôxa Rodrigo, seus posts me ajudam muito! Ha algum tempo me martirizo por uma decisao do passado que mudou minha vida radicalmente, me distanciando de um sonho materialista mas que me trouxe lindas coisas simples. Numca me perdoei. Lendo os seus posts eu percebo que talvez a escolha nao tenha sido errada no final das contas… obrigada!

    1. Oi, Vanessa
      Fico muito feliz de saber que ler os posts deixaram você mais em paz consigo mesma 🙂

  2. Muito legal a reflexão! Acredito muito nisso… o quanto a ambição pode ser fonte de frustração.

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