Lidando com a ansiedade: exposição

Sempre faça aquilo que você tem medo de fazer.
Ralph Waldo Emerson

É possível que a ansiedade seja um problema tão prevalente nos dias de hoje porque a enxergamos de uma maneira errada. E, por vê-la dessa forma, aquilo que fazemos com ela geralmente apenas a torna mais forte ou importante nas nossas vidas. Encaramos a ansiedade, primeiro, como algo que não é natural, um problema, algo indesejado. Uma vez que a vemos dessa forma, buscamos uma solução para ela. Almejamos uma vida sem ansiedade nenhuma, sem dor nenhuma. Como não conseguimos, acabamos piores do que começamos.

Para lidar com a ansiedade de uma forma mais natural, precisamos mudar essa concepção. Primeiro, lembrando que a ansiedade é algo natural: é um mecanismo de proteção que, inclusive, tem um sentido evolutivo. Segundo, entendendo que a ansiedade faz parte da vida, e que tentar eliminá-la nos deixa ainda mais presos a ela e incapacitados pelo sofrimento que ela causa.

Isso, no entanto, não significa resignação. Até porque a ansiedade pode realmente ser um grande problema, impedindo nossa vida de fluir normalmente e fazendo com que não consigamos fazer aquilo que é importante para nós. Entender a ansiedade como ela é significa partir de um ponto em que nossa atitude em relação à ansiedade nos permita viver melhor.

Uma das maneiras de manejar a ansiedade que tem base científica mais forte de sua evidência é um procedimento da psicologia comportamental chamado de exposição. A exposição nada mais é do que enfrentar, pouco a pouco, as situações que nos causam medo. Quando uma situação que nos causa medo atrapalha nossa vida ou nos impede de fazer coisas que gostaríamos, temos um bom motivo para tentar nos expor a ela, já que fugir da ansiedade significa também dar às costas a como gostaríamos de viver.

A lógica da exposição é contrária à que geralmente temos frente a ansiedade: em vez de evitar a situação, nos a procuramos. Em vez de tentarmos não nos sentir mal, nós aceitamos nos sentir um pouco mal para podermos viver de acordo com o que buscamos. Ou seja, entendemos que a nossa “melhora” passa através da dor, e não em volta dela. Entretanto, isso precisa ser feito gradualmente, passo a passo, pois uma exposição muito grande pode ser muito traumática e ter um efeito inverso. A exposição pode até reduzir a ansiedade com o tempo, mas o principal objetivo é simplesmente que a pessoa consiga fazer aquilo que é importante para ela, ainda que continue se sentindo ansiosa. Geralmente, a satisfação por poder agir de acordo com o que se deseja, sem ter o impedimento do medo e da ansiedade compensa de longe qualquer sensação negativa que possa continuar surgindo.

Muitas vezes as pessoas buscam a psicoterapia para lidar com a ansiedade na expectativa que seja possível resolvê-la dentro do consultório e que ela sairá de lá pronta para lidar com tudo sem se sentir mal. Muitas coisas que fazemos no consultório ajudam a entender a ansiedade, incluindo a história de vida e até os aspectos biológicos. Porém, entender não significa que está tudo resolvido. Ao contrário, é apenas um primeiro passo. E o que fazemos no consultório apenas prepara o terreno para que a pessoa consiga lidar com as situações onde realmente importa, que é fora de lá. E isso envolve uma certa dose de dor, de medo, de dificuldade. Mas é só agindo na própria vida e fazendo justamente o que é mais difícil que a pessoa pode se fortalecer e conseguir viver como ela gostaria de viver.

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