Um aspecto que faz parte da nossa cultura contemporânea é a de que dependermos de outras pessoas é algo ruim. Recebemos a mensagem de que devemos ser pessoas autônomas e autossuficientes. Reconhecer ou demonstrar que precisamos de alguém é visto como uma espécie de fraqueza. Entretanto, o quão realista e realmente saudável é a ideia de autonomia absoluta?
Quantas pessoas você conhece que são realmente autônomas? Eu não conheço nenhuma. Mesmo a pessoa mais isolada e solitária ainda depende de outras para obter alimento, roupas, energia ou transporte. Uma pessoa que viva isolada no meio do mato talvez não dependa de outras pessoas, mas ainda assim dependerá de plantas, animais, do clima… A sobrevivência do ser humano é impossível no isolamento total.
Na nossa vida urbana de hoje, nós produzimos muito pouco e dependemos de toda uma sociedade para obter tudo aquilo que precisamos para viver. Na maior parte das vezes, dependemos de alguém que nos pague um salário, compre nossos serviços ou pague nossas contas enquanto ainda não temos condições de fazermos isso por conta própria. Mas, ainda assim, nossa dependência só muda de foco.
Além disso, não estamos aqui apenas para sobreviver. Precisamos de afeto, carinho, reconhecimento. Às vezes, precisamos simplesmente de alguém para conversar, nos ouvir e com quem possamos compartilhar nossos sentimentos. O contato com outros seres humanos é essencial para que tenhamos uma vida mais completa.
É óbvio que precisamos ter um nível de autonomia que possamos levar bem as nossas vidas. Mas mesmo isso serve para que possamos ter, com os outros, boas relações de troca e não de parasitismo. Também é evidente que algumas dependências também podem ser nocivas. Podemos estar numa relação conjugal abusiva, numa família que nos faça mal, ou num emprego que nos leve a um estado de esgotamento. Nesses casos, vale sim buscar autonomia, mas apenas relacionada às pessoas ou contextos que não são benéficos para nós. É comum que, após uma situação traumática de dependência, nos fechemos para qualquer tipo de aproximação, fazendo com que nossa vida se torne mais árida e difícil.
Mas, tirando esses casos, basta pensar em um bebê ou em um idoso que necessita de cuidados para percebermos como é impossível a vida sem dependência. Em vez de tentar nos precaver da inevitável necessidade do outro, podemos celebrar nossa existência em conjunto; valorizar as pessoas que nos oferecem aquilo de que precisamos e também a possibilidade que temos de dar ao outro aquilo que lhe falta. Isso nos levaria a conviver melhor com a nossa interdependência, que é uma característica não só da humanidade, mas da natureza como um todo.
Foto: Tim Marshall
Muito bom texto! Parabéns!
Vale em todos os ciclos da vida, e em todis os ambientes, de casa à escola, ao trabalho, à vida em sociedade… Companheirismo, solidariedade, amizade e parceria são expressões correlatas e cada vez mais raras e necessárias.
Verdade, precisamos cada vez mais disso, René! Obrigado pelo comentário e um abraço.
Em tempos de recrudescimento do diálogo e de desfavorecimentos coletivos, esta é uma mensagem cada vez mais premente mesmo. O homem é dos animais mais dependentes entre si e precisa ser lembrado disso.
Obrigado pela mensagem e pelo trabalho, Rodrigo. Continua!
É verdade, Alessandro. Nos dias de hoje essa mensagem é mais relevante. Obrigado e um abraço!
Oi, Rodrigo, você não tem mais o blog sobre fotografia? Estava procurando por ele e não acho.
Oi, Camilo. Pois é, estava há muito tempo parado, então acabei desativando.