Se você olhar com cuidado para sua vida enfadonha e cotidiana, descobrirá algo verdadeiramente maravilhoso. Nossas velhas vidas comuns e banais são incrivelmente alegres — surpreendente, assombrosa, incansável e implacavelmente alegres. E você também não precisa fazer coisa nenhuma para experimental tal alegria. As pessoas acham que precisam de grandes experiências, experiências interessantes. E é verdade que experiências gigantes e avassaladoras às vezes fazem com que as pessoas, por um breve momento, entrem num estado iluminado. É por isso que essas experiências são tão desejadas. Mas esse estado se esvai rapidamente e você logo estará atrás da próxima excitação. Você não precisa usar drogas, explodir edifícios, ganhar uma corrida de Fórmula 1 ou andar sobre a Lua. Você não precisa sobrevoar o Himalaia de parapente, transar com aquela pessoa super desejada do seu trabalho ou festejar a noite toda com pessoas bonitas. Você não precisa de visões de união com a totalidade do Universo. Apenas seja o que você é, onde você estiver. Lave o banheiro. Passeie com o cachorro. Faça seu trabalho. Essa é a coisa mais mágica que existe.
Brad Warner
Acredito que para muitas pessoas esse tipo de olhar sobre a vida pode parecer estranho. Passamos os nossos dias buscando essas experiências, ou trabalhando para que façamos isso em algum momento. Esperamos o fim de semana para a balada, as férias para aquela sonhada viagem. Não enxergar nisso a nossa fonte de bem estar parece contraintuitivo. A questão é que essas experiências nos foram vendidas como as únicas coisas pelas quais vale a pena viver e trabalhar. E, por conta disso, não conseguimos mais perceber o quão absurda e maravilhosa é a vida em todos os seus momentos.
Nós respiramos, olhamos, falamos, ouvimos, sentimos. Parando para pensar nisso, vemos como é impressionante o simples fato de estarmos vivos. Entretanto, como isso é, para nós, banal, construimos toda uma ideia de como a vida deveria ser e passamos a viver dentro das nossas mentes. Usamos a existência apenas como base para perseguir as nossas fantasias. Simplesmente existir é chato: precisamos de atividades, suprir desejos, conquistar, ganhar. O problema é que, mesmo quando conseguimos vivenciar as nossas fantasias tais quais idealizamos — o que é raro — logo voltamos a um estado de carência, criando e buscando uma nova fantasia. Nunca estamos satisfeitos.
E se, percebendo que todas essas experiências vendidas como incríveis não nos fazem felizes, tomássemos um caminho distinto? E se abraçássemos o que a vida tem de mais pacífico e cotidiano como verdadeiros milagres, como as experiências fantásticas que são? Ouvir o som de um pássaro, conversar com uma pessoa querida, varrer a calçada, lavar a louça. Por mais absurdo que possa parecer, talvez a felicidade não esteja em esquiar nos Alpes — e sim em descobrir como é fantástico lavar um banheiro.
Fantástico! São muito úteis as suas publicações. Continue expondo seus estudos e ideias. Parabéns!
Obrigado pela visita e pelo comentário, Lucas. Abraço.
Hum é por isso que largar a cidade grande e ir morar na roça é uma boa pedida. As tarefas diárias são prazerosas, o contemplar o verde, a paz total. Recomendo lavar o banheiro na roça ;)))
É verdade, Beth, quando estamos num lugar que inspira paz e contemplação, fica bem mais fácil. Mas talvez a gente possa cultivar esse gosto pelo trivial em qualquer lugar que estivermos.
Parabéns pelo seu aniversário hoje Rodrigo.
Resolvi dar os parabéns aqui não por acaso, de fato este é um de meus posts favoritos de todos os que você escreveu.
Ele trata da celebração do ordinário, do comum e de se estar sempre no momento presente.
De alguma forma este post me lembra o sutra do coração,…
“Nem sabedoria e nem qualquer aquisição;
Nada que possa ser encontrado…;”
É quando o objetivo desaparece e passa a ser o próprio caminho.
Abrantes, muito obrigado pelos parabéns e pelo comentário. Fico realmente feliz que você tenha gostado desse post. Grande abraço.