Um viajante solitário caminhava por uma estrada em cuja margem havia uma aldeia. Nessa aldeia, existia uma casa que se aproximava bastante do caminho pelo qual o viajante passava. Ele observou que, na frente da casa, uma senhora idosa sentava-se ao lado de uma cesta cheia de bolinhos embalados cuidadosamente com papel de arroz e fechados com um belo laço. De tempos em tempos, habitantes do vilarejo passavam por ali, retiravam alguns bolinhos e deixavam moedas em troca, como pagamento. A senhora sorria e agradecia a cada um deles, ainda que não os fixasse precisamente com o seu olhar. O viajante, intrigado, notou que a velhinha era cega, e manteve-se observando o movimento à distância. Depois de algum tempo, incomodado, ele resolveu se aproximar. Cumprimentou a velhinha, que respondeu com o mesmo sorriso amável e as palmas das mãos unidas. Ele explicou:
— Boa senhora, perdoe-me pela intromissão, mas acredito que esteja sendo enganada.
— Enganada? Por que diz isso?
— Porque estive observando as pessoas passando por aqui e pegando os bolinhos da sua cesta. Primeiro, passou uma moça que pegou um bolinho e deixou duas moedas. Em seguida, passaram dois garotos que pegaram dois bolinhos e deixaram apenas uma moeda. Depois deles, um pai passou com seus dois filhos pequenos, pegou três bolinhos e deixou também uma moeda. E, por último, uma mulher grávida levou quatro bolinhos sem deixar moeda alguma. A senhora não acha que estão se aproveitando da sua falta de visão?
— O senhor é um homem bondoso — respondeu ela, ternamente. — E eu agradeço muito a sua preocupação comigo. No entanto, eu não acredito que esteja sendo enganada. Dizendo isso, alcançou uma placa que estava dentro da cesta, longe dos olhos do viajante. A pequena placa, escrita à mão, dizia: “Pegue o que precisar. Pague o que puder.”
O viajante fez uma grande reverência à senhora, pedindo desculpas por ter confundido sua bondade com ingenuidade.
Foto de Paz Arando.