Entendendo a ansiedade: alguns fatos

Graur Codrin
Graur Codrin

É difícil lidar com a ansiedade porque costumamos encará-la da forma errada, enxergando-a como um problema que precisa ser removido. É natural, já que não é agradável se sentir ansioso ou angustiado. No entanto, como já vimos no texto sobre evolução, a ansiedade faz parte da nossa natureza. Já que não temos escolha a não ser aprender a conviver com ela, Germer (2005) propõe uma lista de fatos — ou insights, como ele chama — que devem servir de guia na forma como lidamos com a ansiedade. Seguem alguns deles:

1. A ansiedade é um fato da vida. Ela nos protege do perigo. Ela faz parte do nosso sistema nervoso e é inevitável.

Não existe vida sem ansiedade, medo ou tensão. Essas são as formas que o nosso organismo e a nossa mente têm para se preparar e se proteger de eventos potencialmente ameaçadores. Ter a expectativa de uma vida sem isso é irreal. O primeiro passo para se lidar com a ansiedade é justamente encará-la como um processo natural e não como algo estranho a ser eliminado.

2. Não podemos controlar precisamente quando, onde e o que sentimos ou pensamos. Os eventos mentais ocorrem no cérebro, muitas vezes antes mesmo de tomarmos consciência deles.

Da mesma forma que o nosso coração bate, o nosso cérebro pensa. Da mesma forma que você não pode controlar diretamente o seu batimento cardíaco, não dá para controlar diretamente o que surgirá na sua mente em um determinado momento ou situação. O que conta, então, é lidar de uma forma saudável com o que surge: aceitar a falta de controle e perceber o que ocorre dentro da sua cabeça como um observador de si mesmo.

3. Tentar controlar ou evitar a experiência é inútil; frequentemente, só piora o problema.

Pretendo falar mais diretamente sobre o controle e a tentativa de evitar as experiências internas. Por ora, posso adiantar que lutar contra a ansiedade é justamente uma das coisas que a torna maior.

4. O cérebro comete erros. Quando entramos em pânico, o cérebro percebe perigo onde não existe.

Não precisamos acreditar em tudo que nossa mente nos diz. Uma das funções do nosso cérebro é procurar perigos em toda a parte para nos alertar. Na maior parte das vezes, ele comete falsos positivos — ok, exceto nos casos em que você está em um prédio em chamas ou tem um tigre correndo atrás de você. Nessas horas, concordo que faz parte entrar em pânico. Mas tirando essas situações, o nível exagerado de detecção de problemas nos leva a ter um grau de preocupação e tensão muito maior do que o necessário para se viver de forma segura.

5. O nosso progresso é medido não pela frequência com que entramos em pânico, mas por quanto conseguimos aceitar nossa ansiedade.

Já que a ansiedade não pode ser removida, não podemos medir o quanto estamos bem pelo número de vezes em que ficamos ansiosos, e sim pela mudança na forma como lidamos com esses eventos inevitáveis.

6. A cura significa não se iludir com os nossos medos. Eles se tornam eventos mentais comuns acontecendo no cérebro.

Perceba que viver bem não significa uma vida livre de medos e angústias, e sim uma vida em que se consiga conviver com essas sensações sem ser dominado por elas e, principalmente, sem que elas impeçam você de fazer aquilo que julga importante.

A melhor maneira de lidar com a ansiedade pode parecer contraintuitiva: envolve aceitar aquilo de que queremos nos livrar, fazer o que temos medo de fazer, entender que sentimentos negativos fazem parte da vida. Mas o que voce acha? Como você tem tentado se livrar da ansiedade? Tem funcionado? Se não, talvez seja interessante tentar uma forma alternativa.

Referência
Germer, C. K. (2005). Anxiety disorders: befriending fears. In C. K. Germer, R. D. Siegel, & P R. Fulton. Mindfulness and psychotherapy. New York: Guilford Press.

Lidando com o medo de falar em público

7403734608_7c3291e44a_bArrisco dizer que todos nós temos, em algum nível, dificuldade para falar em público. Desde aquele que sente um leve frio na barriga ao se deparar com uma plateia até aquele que tem uma fobia social tão grave que é difícil interagir com outras pessoas. Até mesmo artistas consagrados comentam que o nervosismo antes de entrar em um palco nunca passa, mesmo após anos de carreira.

Situações sociais estão entre as maiores causadoras de ansiedade. Para nós, é aterrorizador fazer algo errado, parecer inadequado ou ridículo frente a um grupo de pessoas. Damos muita importância à nossa imagem, nos levamos a sério demais para que arrisquemos a nossa reputação sem provocar uma série de reações no corpo quando nos colocamos frente a um público.

Quando detectamos algum sinal de perigo, nosso corpo tende a reagir nos preparando para uma situação de luta ou fuga: o coração bate mais rapidamente, o sangue é bombeado para os membros, o cérebro recebe mais oxigênio, alterando funções como a percepção e a cognição. Segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Rochester por Jeremy Jamieson, Matthew Nock e Wendy Mendes, é justamente a forma como interpretamos esses sinais corporais que pode ser decisiva.

Podemos encará-los como incapacitantes, ou seja, acreditamos que não conseguiremos nos sair bem por causa de tudo que estamos sentindo. Isso aumenta mais ainda as respostas de estresse e podemos chegar até mesmo a um ataque de pânico. Entretanto, segundo Jamieson, se enxergarmos esses sinais como uma resposta natural do corpo se preparando para uma situação exigente e que nos permitirá um melhor desempenho, esse desempenho de fato ocorrerá. Ou seja, a questão é entender esses sinais de estresse como algo positivo, por mais que eles pareçam incômodos. No estudo de Jamieson, aqueles que foram orientados a encarar o estresse dessa forma se saíram melhor ao serem confrontados em público.

Em contextos como o de ter que se expor num grupo, estratégias que tentam nos ajudar a relaxar podem ser um tiro pela culatra. Primeiro, porque relaxar é incompatível com uma situação que naturalmente gera tensão pela necessidade de nos sairmos bem. Segundo, por ser muito difícil de conseguir isso na hora, facilmente podemos começar a nos sentir mal também porque não estamos conseguindo relaxar, o que só aumenta a ansiedade. Ou seja, em vez de tentar relaxar, é melhor aceitar a tensão.

Num nível mais profundo, podemos diminuir o medo de falar em público ao reavaliar a importância que damos à nossa imagem e à nossa reputação, nos preocupando menos com o que os outros pensam de nós. Mas isso é um objetivo a ser perseguido a longo prazo. Em termos mais imediatos, o que pode ser feito é aceitar os sinais de estresse e entendê-los como uma ajuda do seu corpo, que está se preparando para a situação que será enfrentada. O negócio é fazer o que temos que fazer com a ansiedade ao nosso lado, enxergando-a como uma companheira.

Referência
Jamieson, J. P., Nock, M. K., & Mendes, W. B. (2013). Changing the Conceptualization of Stress in Social Anxiety Disorder: Affective and Physiological Consequences. Clinical Psychological Science. Doi: 10.1177/2167702613482119.