Quando as pessoas chegam no meu consultório, é comum que elas tenham muitas dúvidas sobre o que é e como funciona a terapia. E uma das dúvidas mais frequentes se refere às diferentes formas de trabalho na psicologia. Você já deve pelo menos ter ouvido falar que, na psicologia, existem várias escolas de pensamento, as chamadas abordagens. As mais conhecidas são a abordagem psicodinâmica (ou “psicanalítica”), originada dos trabalhos de Freud; a psicologia analítica de Jung; a cognitivo-comportamental, com influências do behaviorista Skinner e do cognitivista Beck; a gestalt-terapia de Perls; entre outras.
Se você está querendo fazer terapia, toda essa confusão pode ser desanimadora. Afinal de contas, você quer algo que faça sentido para você, que seja efetivo e que lhe ajude com seus problemas. Até porque a terapia não costuma ser algo barato. Para ajudar você, vou contar três segredos sobre psicólogos e suas abordagens:
1. Psicólogos de uma abordagem não sabem quase nada sobre as outras
Se você perguntar para um terapeuta de base psicanalítica o que ele acha da terapia cognitivo-comportamental, ele pode dizer que é uma abordagem mecânica e superficial. Se você perguntar a um terapeuta cognitivo-comportamental sobre a abordagem psicanalítica, a resposta pode ser que é uma abordagem pouco científica e sem resultados claros. Ambos estão errados.
Quando um psicólogo se forma e decide atuar na clínica, ele geralmente escolhe uma abordagem de trabalho: faz cursos, estuda, se aprofunda naquela abordagem. Ao se especializar em uma, ele deixa as outras de lado, fazendo com que sua visão sobre elas seja muito restrita e distorcida. Fora que a tendência é ele defender aquela que ele escolheu como sendo a “melhor”. Mais ou menos como torcer para um time de futebol. E aí não adianta muito perguntar para um corintiano o que ele acha do Palmeiras.
2. Todas as abordagens funcionam bem
O fato é que todas as abordagens apresentam resultados relativamente semelhantes. Tirando alguns problemas muito específicos que são melhor tratados com uma ou outra abordagem, para as questões mais globais como ansiedade, depressão, estresse, dificuldades familiares e de relacionamento, qualquer uma dessas abordagens mais conhecidas é igualmente eficaz. Vários estudos realizados nos Estados Unidos mostram que o nível de eficácia e de satisfação com a terapia é similar entre as diversas linhas de trabalho.
3. O que importa mesmo é a relação
E por que as abordagens funcionam de forma semelhante? Porque elas têm muita coisa em comum. Não importa qual seja a linha de trabalho, você vai entrar em uma sala com seu terapeuta por mais ou menos 50 minutos, falar daquilo que incomoda e receber um retorno sem julgamento de um especialista formado para entender as suas dificuldades e ajudar você a viver melhor. O que realmente importa para que a terapia funcione é que a relação que você tem com seu terapeuta seja boa. Em outras palavras, se você vai com a cara do seu psicólogo, se você sente que ele compreende seu problemas, não te julga e ajuda você a encontrar alternativas sobre como agir.
E, com isso…
Ao escolher um psicólogo, é importante considerar a formação, a experiência, pedir indicações de conhecidos ou outros profissionais de saúde, mas o determinante é tentar: marcar uma sessão e prestar atenção em como você se sente. Até porque, independentemente da abordagem, cada psicoterapeuta tem o seu estilo, de acordo com suas caraterísticas pessoais. Não há como prever se um psicólogo vai ser bom ou não: o terapeuta da sua amiga pode ser fantástico para ela, mas o estilo dele pode não funcionar com você. Nesse caso, o jeito é procurar outro, até encontrar um em cujo consultório você se sinta “em casa”. Vocês podem passar muito tempo juntos, então a busca pelo profissional certo vale a pena.
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