A forma como encaramos o nosso passado pode ser um fardo para a vida atual. Isso acontece especialmente quando damos valor demais àquilo que acreditamos terem sido escolhas erradas, oportunidades perdidas ou decisões equivocadas. Nossa tendência é imaginar que, se tivéssemos feito as escolhas “certas”, hoje estaríamos vivendo uma vida feliz, e se não estamos, é porque não soubemos agir corretamente, como se o curso das nossas vidas dependesse totalmente de nós mesmos.
Esse tipo de pensamento acaba nos deprimindo. Pois é impossível ganhar quando comparamos a realidade com uma idealização imaginária. A comparação, por si só, provavelmente nos faz mal, mas quando não conseguimos aceitar nossa história e a enxergamos como um acumulado de erros, nos sentimos ainda piores. Além disso, quando ficamos presos no passado dessa forma, acreditamos que nosso tempo já passou, que não temos mais jeito, que não há mais nada a ser feito hoje. Consequentemente, ficamos paralisados e não conseguimos mudar no presente, nos condenando a uma vida lamentando por aquilo que acreditamos que poderia ter sido.
Encarar o passado dessa forma é mais do que contraproducente, é também simplesmente irreal. Essa vida ideal que imaginamos caso tivéssemos feito as coisas “certas” não existe, pois não temos como saber o que teria sido. Cada decisão que tomamos é somente uma variável numa teia incrivelmente complexa de possibilidades, e é impossível saber quais as reais consequências de cada atitude no curso de nossa vida. Para ilustrar isso, podemos lembrar uma história folclórica:
Era uma vez um fazendeiro chinês. Um dia, um de seus cavalos fugiu. Seus vizinhos vieram até ele, comentando como aquele acontecimento era um infortúnio. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
No dia seguinte, o cavalo que fugiu voltou, trazendo com ele sete cavalos selvagens. Os vizinhos apareceram novamente, dizendo que isso era uma grande sorte. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
Depois disso, o filho do fazendeiro tentou domar um dos cavalos selvagens e caiu, quebrando uma perna. Os vizinhos vieram lamentar o ocorrido, dizendo que aquilo era muito ruim. O fazendeiro respondeu: “pode ser”.
No dia seguinte, oficiais do exército que estava recrutando soldados apareceram, mas não levaram o filho do fazendeiro por conta da sua perna quebrada. Os vizinhos vieram ao fazendeiro falando sobre como aquilo era ótimo, e ele respondeu: “pode ser”.
Essa história nos faz perceber que não podemos classificar os acontecimentos como bons ou ruins, simplesmente porque não sabemos os desdobramentos de cada situação. Por mais angustiante que possa parecer, o fato é que não temos controle sobre o que irá acontecer conosco e nem mesmo sobre o resultado das nossas ações, especialmente a longo prazo. Não faz sentido, então, comparar nossa história com uma outra história ideal, pois esta simplesmente não existe.
Nos resta apenas entender que nossa história é única e aquilo que chamamos de “erro” é apenas uma avaliação muito rasa das nossas atitudes passadas. Podemos, em vez disso, ser humildes o suficiente para entender que não estamos no comando do universo e escolher valores que guiem nossas ações em vez de voltá-las para resultados que não dependem apenas de nós.
Caro Rodrigo, obrigada mais uma vez pela sua contribuição! Agir guiado pelos nossos valores e não focado no controle nos ajuda a viver de uma forma mais leve e aproveitar os momentos que nos deparamos na nossa jornada , sem julga – los; apenas entender e seguir a diante!
Irene, fico feliz que texto tenha sido útil pra você. Uma vez que o nosso controle sobre os resultados externos é muito limitado, tentarmos ser uma pessoa melhor, guiados por nossos valores, é uma boa forma de aproveitarmos o nosso tempo.
Um grande abraço.
Olá, preciso saber de que livro você extraiu essa história. Li há muitos anos, mas perdi o livro onde a li, o procuro para comprar e ler novamente. O título acho que continha a palavra felicidade. É maravilhoso!
Oi, Maria. Acho que deve ter sido de algum livro do Alan Watts, mas não lembro o título.
Boa dia rodrigo! Gostaria de saber o porque damos mais alimentamos mais as coisas ruins do que as coisas boas que acontecem em nossas vida? Um sentimento bom esquecemos rapido , e o ruim ficamos nutrindo dentro da gente. Abraço
Bom dia, Arnaldo. Essa é uma boa questão. Acho que existem muitas explicações possíveis. Podemos nos apegar mais a sensações e pensamentos negativos por medo, por exemplo. Podemos acreditar que estaremos mais protegidos se nos preocuparmos mais. Ou até que nos sairemos melhor se formos mais duros conosco.
Resumindo: não podemos controlar o que nós acontece e sim como reagimos.