A psicanalista Judith Viorts aponta em seu livro, Perdas Necessárias (1986), que a maior parte do nosso sofrimento decorre das perdas. Ao longo de toda a nossa vida, resistimos às mudanças: desde o momento em que precisamos abrir mão das fraldas até quando, pela idade avançada, temos que parar de dirigir. As perdas são constantes e, muitas vezes imprescindíveis para o nosso crescimento.
Mas, justamente porque as perdas são dolorosas, não gostamos de vê-las como inevitáveis (Siegel, 2012). Nossa tendência é de ver o mundo como algo estável e organizado. Preferimos pensar que nosso emprego está garantido, que sempre teremos saúde e que os familiares nunca morerrão. Entretanto, uma das características da natureza é a mudança constante. E, para viver bem, é preciso enxergar o mundo tal qual ele é.
Se entendermos que o mundo não funciona de acordo com a nossa vontade, podemos abrir mão da tentativa vã de segurar tudo aquilo que nos agrada. Com isso, podemos desenvolver uma atitude menos resistente às mudanças, que deixa ir aquilo que acabou e é mais recetpiva às novidades. Quando conseguimos abrir mão de algo que nos deixava seguros, damos chance para situações que podem nos fazer melhor no longo prazo.
Já ouvi que ter consciência de que as coisas mudam e acabam parece pesado e pessimista. Por exemplo, olhar para as pessoas de quem gostamos e lembrar que elas não estarão para sempre do nosso lado realmente é muito doloroso. Mas acredito que essa mesma perspectiva pode ser bastante positiva se, ao nos darmos conta que o tempo que temos é limitado, passarmos a aproveitar melhor tudo aquilo que valorizamos.
Se soubermos valorizar cada fase da nossa vida, a companhia das pessoas queridas, o sucesso e a alegria, talvez possamos viver melhor. Especialmente se conseguirmos passar por esses momentos com mais presença, e menos preocupados em fazê-los durar para sempre. As perdas ainda serão dolorosas — mas menos do que quando temos a sensação de que não vivemos plenamente aquilo que se foi.
Referências:
Siegel, R. D. (2012). The wise psychotherapist. Em: C. K. Germer, R. D. Siegel. Wisdom and Compassion in Psychotherapy. New York: The Guilford Press.
Viors, J. (1986). Perdas Necessárias. São Paulo: Melhoramentos.
Me lembrou as muitas conversas que tivemos. E me lembrou o exato ponto no qual eu compreendi de fato o que você está querendo dizer. A partir do momento em que perdi o medo de perder, as mudanças vieram e hoje sou muito mais realizada. Beijo
Que interessante, Pri. É muito legal quando temos essas compreensões que mudam a forma que temos de ver o mundo, não? Achei legal saber. Beijos.