Para aprender a lidar com a ansiedade, precisamos entendê-la. Como tudo que acontece conosco, podemos relacionar a ansiedade a fatores ambientais, culturais e orgânicos. Considerando o a área orgânica, uma das perspectivas que acho mais úteis para compreender a ansiedade é enxergá-la do ponto de vista evolutivo, ou seja, da influência da carga genética dos nossos ancestrais no nosso comportamento.
Psicólogos evolucionistas (…) olham para a função de um determinado medo, tentando determinar como ele pode ter servido para guiar ou proteger o indivíduo em certas situações. O fato é que no contexto da Idade da Pedra, as neuroses eram adaptativas. A altura era perigosa, comida estragada poderia estar contaminada, era arriscado ofender estranhos ameaçadoras, você não iria querer cruzar um campo aberto onde leões poderiam vê-lo e você poderia se salvar de morrer de fome acumulando comida para o inverno. Quem sobreviveu na Idade da Pedra foi o neurótico, por causa das suas ansiedades. Quem não era ansioso o suficiente simplesmente não sobreviveu.
O problema é que as ansiedades que já nos serviram não funcionam mais. Nós herdamos um conjunto de respostas psicológicas e biológicas que não é muito útil para as necessidades da vida atual.
Robert Leahy
A espécia humana, como é hoje, tem cerca de 50 mil anos. Quer dizer que o nosso organismo — e muito do nosso comportamento que é determinado geneticamente — foi moldado por um ambiente muito diferente daquele em que vivemos. No ambiente pré-histórico perigoso e com recursos escassos, fazia muito sentido ser medroso e ansioso: qualquer deslize poderia significar a perda da vida.
Hoje não precisamos mais nos preocupar em cruzar com um leão faminto, mas continuamos procurando por potenciais perigos: posso perder o emprego, posso ficar sozinho, posso não ter o que comer, posso ser assaltado etc. Somos neuróticos por natureza. Temos uma tendência natural a ver perigo em tudo. Uma das funções básicas do nosso cérebro é procurar problemas em toda a parte — e tentar resolvê-los. Daí a nossa ruminação constante sobre tudo o que pode dar errado e o que fazer em cada cenário catastrófico que montamos na nossa cabeça. Parece não importar muito que 99,9% de tudo que imaginamos não chegue realmente a acontecer.
Acho particulamente interessante lembrar do aspecto evolutivo porque muitas das pessoas ansiosas que atendo acham que só elas funcionam daquela forma. “Outras pessoas funcionam como eu?” ou “alguém mais se preocupa tanto quanto eu?” são algumas das perguntas que ouço. A resposta é que sim, somos naturalmente ansiosos. Esse é um primeiro passo para entender que a ansiedade tem uma razão de ser, que é nos proteger. O problema é que ela, na maior parte das vezes, tenta nos proteger de perigos exagerados ou irreais. Sabendo disso, podemos, com um pouco de treino, perceber quando a nossa ansiedade é justificada ou não.
Referência:
Leahy, R. L. (2009). Anxiety free: Unravel your fears before they unravel you. Carlsbad: Hay House.