Meditação simples e fácil

Enquanto você inspira, diga pra si mesmo: ‘ao inspirar, sei que estou inspirando’. E, conforme você expira, diga, ‘expirando, sei que estou expirando’. Só isso. Você reconhece sua inspiração como inspiração e sua expiração como expiração. Você nem precisa falar a frase toda, se não quiser. Pode apenas usar duas palavras: ‘dentro’ e ‘fora’. Essa técnica pode ajudar você a manter a mente na respiração. Conforme você pratica, sua respiração se tornará mais pacífica e tranquila, e com isso sua mente e seu corpo também ganharão paz e tranquilidade. Esse não é um exercício difícil. Só com alguns minutos você se dará conta dos ganhos da meditação.

Do livro “Paz a Cada Passo”, de Thich Nhat Hanh

Eu como contexto

Aquele que se deixa prender por uma alegria
Rasga as asas da vida;
Aquele que beija a alegria enquanto ela voa
Vive no amanhecer da Eternidade.
William Blake

Um dos pilares da Terapia de Aceitação e Compromisso é o conceito de eu como contexto (self as context em inglês). Nós geralmente pensamos no “eu” como algo sólido, rígido, estável, constante e consistente. Falamos da nossa personalidade, do nosso jeito, como se fossem coisas fixas. Fazemos o mesmo com os outros. Dizemos que fulano é “agressivo”. Mas quem é agressivo 100% do tempo? Na verdade, somos um fluxo, e mesmo as nossas ações não são sempre iguais. Agimos de um jeito quando estamos alegres, de outro quando estamos irritados, de outro quando estamos com sono. Mas criamos rótulos permanentes para algo que é fluido, sem perceber como isso é inadequado. Atribuímos qualidades a nós mesmos e toda vez que elas são confrontadas, nos sentimos mal e confusos. Às vezes fazemos coisas que não queríamos fazer e pensamos: “como pude fazer isso?” ou dizemos “não era eu”, “estava fora de mim”. Essa confusão aparece quando temos uma concepção do que sou “eu” que é confrontada quando esse “eu” faz algo diferente daquilo que imaginamos que ele deveria fazer. O problema, entretanto, não é ter a nossa concepção de eu confrontada com a realidade, e sim a própria ideia que fazemos de que somos uma coisa só.

E é justamente essa concepção de que o meu “eu” é algo estável e sólido que nos causa sofrimento. Quando algo me irrita, penso “estou angustiado”. Somos dominados por esse sentimento, como se eu inteiro estivesse repleto de angústia. E, como isso não é agradável, tento sair desse estado. Só que outra ilusão que temos é a de que as coisas que acontecem sob a nossa pele estão no nosso controle. Se você prestar atenção, perceberá que não estão. Eu não posso simplesmente decidir ficar alegre, ou remover uma tristeza voluntariamente. Não tenho um botão liga/desliga para as sensações. A única coisa que podemos fazer é nos colocar em situações que provocam indiretamente uma ou outra sensação ou emoção. Posso andar de montanha russa para que a situação me provoque excitação, ou ver um filme de terror para que ele faça o medo surgir em mim. E, quanto estamos nos sentindo mal, podemos tentar controlar o que acontece internamente de forma desastrada. Posso, por exemplo, estar me sentindo angustiado e, para “resolver” a angústia, encher a cara no bar mais próximo. É claro que isso não resolve nada, além de trazer outros problemas.

A ideia do eu como contexto envolve, então, olhar para si mesmo com outra perspectiva. Em vez de encarar o nosso eu consciente como uma massa sólida que ora está irritada, ora está alegre, ora está triste, podemos entender que o “eu” é um espaço. Nesse espaço, surgem constantemente pensamentos, sensações e emoções. Temos tanto controle sobre o que surge nesse espaço como temos sobre o clima. Se olho pela janela de manhã esperando um dia de sol e dou de cara com um dia nublado e chuvoso, de nada adianta praguejar contra o tempo; essa atitude apenas me causará sofrimento. Da mesma forma, se eu me sinto triste e pensar que eu não queria estar me sentindo dessa forma, que quero que aquilo vá embora, apenas aumentarei meu sofrimento.

Para conseguir lidar de outra maneira com tudo isso que surge em nós e que não conseguimos aceitar, causando sofrimento, podemos cultivar o “eu” observador. O eu observador é aquele que consegue enxergar o próprio eu como um contexto, como esse espaço que eu mencionei acima. Se você parar por um minuto e tentar prestar atenção naquilo que você está pensando, sentindo, nas sensações que os seus sentidos estão trazendo, perceberá que existe um “eu” que enxerga o próprio eu. Esse “eu” observador é um “eu” que não se mistura com as sensações, ele apenas as observa e reconhece. Esse “eu” não sofre, pois ele não rejeita nada nem se apega, apenas observa.

Imagine que você está num teatro. No palco, estão as suas emoções, pensamentos e sensações. Elas entram e saem sem parar. Algumas ficam por um tempo, outras passam rapidamente. Esse é o eu, o espaço em que tudo isso surge. Geralmente estamos no meio do palco, sendo puxados e empurrados para lá e para cá por todos esses conteúdos internos. Alguns são desagradáveis, fazendo com que tentemos fugir deles; outros são agradáveis, fazendo com que nós os persigamos. O exercício que podemos fazer é tentar sair do meio do palco e sentar na plateia. Da plateia, podemos observar esse fluxo incessante, mas sem sermos dominados por ele. Podemos conduzir nossa vida apesar das nossas angústias, medos e até das alegrias temporárias que podem nos desviar do caminho que realmente queremos. Todas essas coisas continuarão lá, mas a partir do momento em que as observamos e as encaramos como naturais, com aceitação e tolerância, podemos passar a agir de acordo com o que de fato escolhemos para viver uma vida boa e significativa.

O que você quer fazer com seu tempo?

Ninguém vai ajudar os homens, se eles não se ajudarem. E isso pode ser feito facilmente. Basta não esperarem nada, do céu ou da terra, e simplesmente parar de arruinar as próprias vidas.
Liev Tolstoi

Às vezes faço para as pessoas que atendo algumas perguntas que não são fáceis de responder. Alguns deles brincam: “lá vem você com essas questões existenciais!”. É verdade, não é fácil falar sobre o nosso propósito na vida, sobre como queremos viver ou até mesmo pensar na nossa finitude e no limite do tempo. Mas o fato é que essas perguntas, tão incômodas que fazem com que prefiramos evitá-las, são essenciais para a terapia e para a vida como um todo.

Em algum determinado momento, costumo fazer essas indagações, que podem assumir diversas formas:

O que você quer fazer com seu tempo?
Como você quer viver?
Que tipo de pessoa você quer ser?
O que você quer ser capaz de fazer?
Você pensa na sua própria morte?

Esses questionamentos servem para traçarmos algum tipo de direção na vida, bem como para colocar algumas coisas em perspectiva, pois alguns problemas podem ficar mais simples ou mais fáceis de lidar quando enxergamos as coisas de forma mais ampla.

Nem sempre temos respostas prontas para essas perguntas, o que pode até ser bom, pois nos faz parar para pensar. No fim das contas, não importa qual seja a nossa história, nossa classe social, nossa crença, a única coisa que realmente temos é um punhado de tempo. Se formos além, veremos que “tempo” é um conceito abstrato, e por não sabermos quanto dele temos, o único “tempo” que de fato temos é esse exato momento.

Por conta disso, não costumo fazer essas perguntas em termos de um direcionamento para metas. Se eu perguntasse “aonde você quer chegar?”, a resposta dificilmente seria algo que depende apenas da pessoa. Um objetivo é útil apenas na medida em que conseguimos nos direcionar para ele no presente. Posso querer um determinado emprego, um relacionamento harmonioso ou até mesmo ser feliz, mas a questão é: “o que você pode fazer nesse exato momento para ir na direção do que você quer?”. Esses objetivos podem ou não se concretizar, mas o que está realmente sob o nosso controle é se queremos nos dedicar a atingi-los, se queremos usar nosso tempo em função deles.

A noção de que o nosso tempo é limitado pode ser assustadora. Sabemos que dificilmente seremos numa só vida um músico habilidoso, um grande matemático, uma mãe extremamente dedicada aos filhos e um atleta olímpico. Nossa limitação implica em escolhas, e por serem escolhas muito importantes, muitas vezes elas nos paralisam. Às vezes simplesmente não conseguimos decidir o que queremos e usamos o nosso tempo tentando achar o caminho ideal, enquanto a vida real passa. Não há saída para isso que não seja abrir mão do que não é essencial e entender que a vida tem seus limites. Não somos super-homens capazes de tudo e se esperarmos que é natural podermos usufruir, em uma vida, de todas as maravilhas da existência, terminaremos muito desapontados. Basta pensar nas pessoas que perdem a vida muito cedo.

Pensar na morte pode ajudar a nos tirar da letargia de uma rotina insatisfatória e nos colocar em movimento. É um bom exercício nos imaginarmos num caixão, com nada mais a ser feito. Vislumbrar a finitude dessa existência, paradoxalmente, pode nos levar a aproveitá-la melhor. Não importa se você acredita ou não em algo depois dessa vida: o fato é que temos esse tempo, esse momento. Não sabemos se vamos realizar nossos sonhos, se vamos conseguir ser felizes, se vamos ter muitos ou poucos anos pela frente. A única coisa que temos como realmente certa é de estarmos vivos nesse exato momento. Você tem esse tempo, esse agora. Como você quer passar por ele?