Muitos aspectos da psicologia moderna convergem com ensinamentos da filosofia oriental. Tomemos por base o trecho de Ajahn Sumedho, monge budista:
Nosso sofrimento vem do apego que temos com ideais, e da forma complexa que criamos a respeito de como as coisas são. Nunca somos o que devemos ser de acordo com nossos ideais mais altos. A vida, os outros, o país em que vivemos, o mundo em que vivemos – as coisas nunca parecem ser o que deveriam. Tornamo-nos muito críticos de tudo e de nós mesmos: “eu sei que deveria ser mais paciente, mas eu não consigo ser paciente”… Veja todos os “devos” e “não devos” e os desejos: querer o agradável, querer se tornar algo ou se livrar do feio e do doloroso. É como se houvesse alguém atrás da cerca dizendo, “eu quero isto e não gosto daquilo”. As coisas devem ser deste jeito e não daquele jeito.” Use seu tempo para ouvir a mente reclamando; traga-a para a consciência.
Na psicologia cognitiva atual, defende-se que muitas das nossas dificuldades estão baseadas em percepções errôneas sobre o mundo. Essas percepções errôneas são chamadas de distorções cognitivas.
Uma das categorias dessas concepções erradas se refere justamente à “ditadura dos deveria”, quando pensamos que deveríamos fazer isso ou aquilo, ser de um jeito ou de outro, ou que as coisas deveriam ser desse ou daquele modo. Esse tipo de pensamento causa angústia, pois, obviamente, é impossível controlar a si mesmo e a todos para que tudo seja do jeito que acreditamos que deve ser.
Uma mudança de perspectiva envolve aceitar as coisas tais como são, inclusive nós mesmos. Quando entendemos a relação entre os eventos e como cada “coisa” é apenas uma contingência para outra, percebemos que o mundo ideal que imaginamos, ou a pessoa ideal que pretendemos ser é apenas uma fantasia que causa sofrimento. Quando condicionamos a nossa felicidade ao dia em que nos tornarmos tudo aquilo que queremos ser, na verdade estamos nos condicionando à infelicidade, porque tal estado é inatingível – e, mesmo que fosse possível, ainda assim não nos traria plenitude.
Até hoje evito usar os termos “não consigo” e “tenho que”.