Lidando com o medo de falar em público

7403734608_7c3291e44a_bArrisco dizer que todos nós temos, em algum nível, dificuldade para falar em público. Desde aquele que sente um leve frio na barriga ao se deparar com uma plateia até aquele que tem uma fobia social tão grave que é difícil interagir com outras pessoas. Até mesmo artistas consagrados comentam que o nervosismo antes de entrar em um palco nunca passa, mesmo após anos de carreira.

Situações sociais estão entre as maiores causadoras de ansiedade. Para nós, é aterrorizador fazer algo errado, parecer inadequado ou ridículo frente a um grupo de pessoas. Damos muita importância à nossa imagem, nos levamos a sério demais para que arrisquemos a nossa reputação sem provocar uma série de reações no corpo quando nos colocamos frente a um público.

Quando detectamos algum sinal de perigo, nosso corpo tende a reagir nos preparando para uma situação de luta ou fuga: o coração bate mais rapidamente, o sangue é bombeado para os membros, o cérebro recebe mais oxigênio, alterando funções como a percepção e a cognição. Segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Rochester por Jeremy Jamieson, Matthew Nock e Wendy Mendes, é justamente a forma como interpretamos esses sinais corporais que pode ser decisiva.

Podemos encará-los como incapacitantes, ou seja, acreditamos que não conseguiremos nos sair bem por causa de tudo que estamos sentindo. Isso aumenta mais ainda as respostas de estresse e podemos chegar até mesmo a um ataque de pânico. Entretanto, segundo Jamieson, se enxergarmos esses sinais como uma resposta natural do corpo se preparando para uma situação exigente e que nos permitirá um melhor desempenho, esse desempenho de fato ocorrerá. Ou seja, a questão é entender esses sinais de estresse como algo positivo, por mais que eles pareçam incômodos. No estudo de Jamieson, aqueles que foram orientados a encarar o estresse dessa forma se saíram melhor ao serem confrontados em público.

Em contextos como o de ter que se expor num grupo, estratégias que tentam nos ajudar a relaxar podem ser um tiro pela culatra. Primeiro, porque relaxar é incompatível com uma situação que naturalmente gera tensão pela necessidade de nos sairmos bem. Segundo, por ser muito difícil de conseguir isso na hora, facilmente podemos começar a nos sentir mal também porque não estamos conseguindo relaxar, o que só aumenta a ansiedade. Ou seja, em vez de tentar relaxar, é melhor aceitar a tensão.

Num nível mais profundo, podemos diminuir o medo de falar em público ao reavaliar a importância que damos à nossa imagem e à nossa reputação, nos preocupando menos com o que os outros pensam de nós. Mas isso é um objetivo a ser perseguido a longo prazo. Em termos mais imediatos, o que pode ser feito é aceitar os sinais de estresse e entendê-los como uma ajuda do seu corpo, que está se preparando para a situação que será enfrentada. O negócio é fazer o que temos que fazer com a ansiedade ao nosso lado, enxergando-a como uma companheira.

Referência
Jamieson, J. P., Nock, M. K., & Mendes, W. B. (2013). Changing the Conceptualization of Stress in Social Anxiety Disorder: Affective and Physiological Consequences. Clinical Psychological Science. Doi: 10.1177/2167702613482119.

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