Muitas pessoas se perguntam se precisam de terapia. Há quem ache que todo mundo precisa. Há quem ache que ninguém precisa, e que as pessoas deveriam resolver seus problemas sozinhas. A dificuldade em chegar numa resposta para essa pergunta está na palavra “precisar”. É difícil avaliar do que cada pessoa precisa. Por isso, uma alternativa melhor para decidir sobre fazer ou não psicoterapia é pensar não em termos de necessidade, mas perguntar-se: “a terapia pode me ajudar a viver melhor?”. Pois no fim das contas, não importa qual o perfil da pessoa que procura esse tipo de atendimento, o objetivo é sempre esse: viver melhor.
Apesar desse ser o motivo universal, a forma como a terapia pode ajudar cada pessoa varia bastante. Muitas pessoas que procuram um atendimento se encaixam em algum quadro como depressão, ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar ou transtornos alimentares. Para esses quadros, a terapia é um tratamento estruturado, pois busca entender as causas, na história e no presente da pessoa, do problema, e promover as mudanças necessárias para que haja melhora. Tudo isso através de um método, ou seja, de forma organizada e cientificamente validada. Dependendo da severidade da situação, que é avaliada no quanto o transtorno afeta a capacidade da pessoa de viver como ela gostaria, o tratamento é feito em conjunto com um psiquiatra.
Entretanto, muitas — talvez a maior parte — das pessoas que procuram a terapia não se encaixam nesses diagnósticos, ou pelo menos não em intensidade significativa. Dificuldades mais cotidianas, como problemas de relacionamento, dúvidas sobre trabalho e carreira, conflitos conjugais e familiares são comuns entre os motivos de busca por terapia. Além disso, sempre é possível utilizar a psicologia para autoconhecimento, ou seja, para compreender melhor os porquês das próprias atitudes e realizar mudanças que podem tornar a vida melhor.
A partir disso, poderíamos inferir que todo mundo deveria fazer terapia. Não é o caso. Muitas pessoas vivem bem, conseguem entender e avaliar as situações pelas quais passam e tomar as atitudes necessárias para as mudanças. Nesses casos, é possível que a terapia não traga grandes benefícios. Da mesma forma, quando alguém que está em atendimento por um transtorno mais sério chega nesse ponto, eu costumo sempre sinalizar que a pessoa já está bem para caminhar sozinha — embora a decisão de interromper a terapia seja tomada em conjunto. Acho bastante importante que a pessoa não fique dependente de terapia, e para isso é bom suspender ou interromper o processo no momento em que ela se sente fortalecida para lidar com as dificuldades sem o apoio de um psicólogo.
Um outro aspecto que devemos considerar ao avaliar se alguém pode ou não se beneficiar da psicoterapia é a tendência exagerada que temos de patologização daquilo que é normal. É normal ficar triste quando passamos por perdas, é normal ter ansiedade frente a situações que exigem bastante de nós. Isso não é doença. A tendência de patologização talvez seja mais visível nas crianças. É comum que as escolas, por exemplo, atribuam à criança um problema que tem a ver com o contexto. Por exemplo, ao sugerir que uma criança que sofre bullying precisa de tratamento. É possível que a terapia a ajude a lidar melhor com os problemas que o bullying traz, mas a solução do bullying não está na terapia, pois não é a criança que tem um problema, e sim o ambiente em que ela está, incluindo os colegas que praticam as agressões.
A psicoterapia, portanto, é um instrumento útil para uma gama ampla de situações, desde transtornos mais complexos até para quem busca autoconhecimento e ajuda para lidar com situações cotidianas. Não podemos dizer simplesmente se uma pessoa precisa de terapia em termos de sim ou não, mas na verdade do quanto ela pode se beneficiar. A psicoterapia quase sempre ajuda quem a procura a viver melhor, mas esse viver melhor não acontece dentro do consultório; dentro do consultório se criam ideias e direções para novas percepções e atitudes. Todavia, é a pessoa, na sua vida, que as executa. A psicoterapia é útil quando ela está presente na vida real, ou seja, quando a pessoa leva consigo, em forma de mudança, aquilo que aconteceu na sessão.