O poder da espera

Você é tão jovem ainda, está diante de todos os inícios, e por isso gostaria de lhe pedir, caro senhor, que tenha paciência quanto a tudo o que está ainda por resolver no seu coração e que tente amar as próprias perguntas como se fossem salas fechadas ou livros escritos numa língua muito diferente das que conhecemos. Não procure agora respostas que não lhe podem ser dadas porque ainda não as pode viver. E tudo tem de ser vivido. Viva agora as perguntas. Aos poucos, sem o notar, talvez dê por si um dia, num futuro distante, a viver dentro da resposta.
Rainer Maria Rilke

Numa época em que temos quase tudo instantaneamente, parece ser cada vez mais difícil esperar. Através de celulares, computadores, tablets, qualquer informação e o contato com qualquer pessoa está ao toque dos dedos. Não só queremos, como também somos cobrados por respostas imediatas aos pedidos de outras pessoas. E ainda nos perguntamos por que estamos mais ansiosos do que nunca.

Imagine uma criança que consegue tudo o que deseja de maneira imediata. O que você acha que acontecerá com essa criança conforme ela cresce? Sim, ela será impaciente e mimada. Ser capaz de esperar é algo que precisa ser aprendido. Se você teve pais que lhe ensinaram a esperar, muito bom. Mas você pode estar minando essa capacidade ao ser indulgente com a possibilidade de ter qualquer coisa agora e ao reagir instantaneamente a tudo.

Não quero dizer que não devamos aproveitar das possibilidades que a tecnologia nos traz, incluindo a possibilidade de ter informações instantâneas e poder estar em contato com outras pessoas a qualquer momento. Mas vale a pena uma reflexão para entender quais as consequências dos hábitos que temos. Reclamamos da ansiedade, da angústia, mas paramos pouco para avaliar de que forma estamos contribuindo para o surgimento e manutenção das nossas dificuldades.

A nossa incapacidade de esperar não nos deixa apenas ansiosos e irritados no dia a dia. Ela também afeta nossa capacidade de decidir os rumos da nossa vida de forma mais consciente. Quando não esperamos, tendemos a agir apenas para nos livrar do sofrimento imediato, levando a atitudes impulsivas e que, no fim das contas, pode criar novos problemas e não resolver aquele se que pretendia. Além disso, continuamos vulneráveis à angústia, ao alimentar a “criança mimada” dentro de nós.

Para recuperar nossa capacidade de esperar, precisamos treinar e cultivar a paciência. Podemos, por exemplo, ter momentos do dia em que nos desconectamos, desligando o celular. Podemos fazer isso na hora do almoço, ao dar uma volta ou no fim do dia, priorizando o contato com a família e amigos. Podemos, também, deixar que nossas emoções intensas se dissipem antes de decidir como reagir a uma situação delicada. E, nas situações em que somos forçados a esperar, como numa fila ou no trânsito, podemos apreciar o que temos à nossa volta, sem pressa. Afinal de contas, cada momento é único e precioso, ainda que ele não seja do jeito que gostaríamos.

Foto: Ah Wei

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