Muitas pessoas diriam que o apego a desejos “bons” é necessário para impedir que desejos “maus” sejam expressos no comportamento. (…) Se tal apego existe, quando uma emoção natural como a inveja surge na consciência, ela é imediatamente contrariada com um pensamento como “você deveria estar satisfeito com o que tem e estar feliz pela outra pessoa”. Em termos de comportamento, esse sistema pode promover caridade em vez de maldade, mas apenas ao custo de frustração e conflitos internos que, mais cedo ou mais tarde, provavelmente sairão pela culatra. Esse revés é geralmente alimentado pelo ressentimento por ter que controlar as próprias experiências e pela culpa caso as emoções ruins não tenham sido suprimidas. O engano aqui é a crença de que é preciso estar sempre controlando o mundo psíquico interno. A ideia de se apegar às chamadas emoções positivas como amor e bondade é apenas mais uma tentativa de autocontrole. Ao aderir a essa crença, uma pessoa acaba se envolvendo em conflitos internos intermináveis entre certo e errado, nos quais uma considerável energia psíquica é usada para controlar impulsos.
Gerald D. May1
Na nossa cultura, uma mensagem prevalente é a de que podemos e devemos controlar aquilo que pensamos e sentimos. Ouvimos que um pensamento errado é pecado, que não precisamos nos sentir tristes, que devemos cultivar apenas pensamentos positivos. Muitas pessoas que chegam a um consultório de psicologia estão angustiadas por estarem pensando e sentindo aquilo que acham que não devem. Por isso, sentem-se erradas e problemáticas.
Como acreditamos que é possível controlar o nosso mundo interno, ou seja, aquilo que pensamos e sentimos, buscamos estratégias para obter esse controle. Podemos tentar reprimir pensamentos negativos, negar emoções indesejáveis ou bloquear certos estados internos repetindo frases positivas mentalmente. Buscamos meditar com o intuito de esvaziar a mente. E mesmo algumas técnicas de psicoterapia vão defender que existem jeitos “certos” de pensar. Geralmente, como o texto inicial coloca, essas estratégias não funcionam a longo prazo e apenas causam mais angústia. É sabido que tentar não pensar em algo faz com que na verdade pensemos naquilo ainda mais2.
Uma aspecto fundamental para ficarmos em paz é entendermos o que está ou não sob o nosso controle. Quando olhamos bem, temos muito menos controle do que gostaríamos, e uma das áreas que foge do nosso controle direto são nossos pensamentos e sentimentos. Não é só porque algo está dentro da nossa pele que está automaticamente sob nosso controle. Do mesmo jeito que não controlamos nossos batimentos cardíacos ou nossa digestão, também não controlamos eventos mentais. Essa é uma conclusão incômoda, porque muitos dos eventos mentais que ocorrem são dolorosos, fazendo com que prefiramos acreditar que é possível nos livrar deles.
Uma postura alternativa é a de observação, sem julgamento, dos eventos internos. Dessa forma, podemos não só aprender a conviver com eles, como nos conhecer melhor. É possível até nos divertirmos com tudo que ocorre nas nossas mentes, sem levar todo o conteúdo dos nossos pensamentos muito a sério.
Existe uma metáfora utilizada na Terapia de Aceitação e Compromisso que aborda esse ponto. Ela propõe que enxerguemos essa batalha entre pensamentos “certos” e “errados” como um jogo de xadrez. De um lado, os pensamentos e sentimentos positivos, do outro, os negativos. Nós tentamos fazer que um dos lados vença a partida. Entretanto, essa é uma batalha sem fim. E a proposta é entendermos que somos, na verdade, o tabuleiro.
Referências
- Trecho de Gerald D. May, no livro Will and Spirit: A Contemplative Psychology, de 1987, publicado pela Harper-Collins.
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Effects of suppressing thoughts about emotional material. Roemer, Lizabeth; Borkovec, Thomas D. Journal of Abnormal Psychology, Vol 103(3), Aug 1994, 467-474. http://dx.doi.org/10.1037/0021-843X.103.3.467
Foto: Wil Stewart
Olá Rodrigo, descobri por acaso o seu blog e me interessei muito.com certeza estarei acompanhando e participando do seo seu Blog. gostei muito dos assuntos aqui abordados. u
m abraço. Neide
* Corrigindo: Olá Rodrigo, descobri por acaso o seu blog e me interessei muito.Com certeza estarei acompanhando e participando do seu seu Blog, se possível. Os assuntos abordados são interessantes.
Um abraço. Neide.
Muito obrigado, Neide! Um abraço.
Vlw… ajudou na minha pesquisa quântica
Muito Bom 😊