Enquanto as pessoas seguirem regras impraticáveis—não importa se essas regras são promovidas pela cultura—suas estratégias para lidar com as situações falharão e elas permanecerão angustiadas. O objetivo [da terapia] nesses casos é identificar as regras que as pessoas estão seguindo e as consequências impraticáveis às quais elas levam. Isso pode se aplicar tanto a uma pessoa sem histórico de problemas de saúde mental que atravessa um divórcio bebendo para amenizar a dor como a alguém que sofreu abuso sexual na infância e tem um padrão de uso de drogas há dez anos. Nenhuma dessas pessoas está “quebrada”, no sentido de precisar de anos de terapia para corrigir algum problema de personalidade. Ambos estão buscando o mesmo objetivo: controlar emoções, pensamentos e memórias dolorosas usando estratégias que acabam causando mais dor.
Kirk Strosahl
Uma das vantagens da linguagem é poder formular regras. Podemos criar frases que descrevem os padrões que observamos no mundo: “se eu comer demais, engordarei”, “se eu passar no sinal vermelho, serei multado”. Isso é bastante útil, pois assim podemos agir de forma a produzir os resultados que queremos, ou evitar situações desagradáveis. Além disso, podemos pegar regras emprestadas de outras pessoas, e assim saber como agir sem ter que ter passado por aquela situação. Uma amiga pode dizer: “vá na loja tal, que está com uma liquidação fantástica” ou “não coma no restaurante x, a comida lá é muito ruim”.
As regras, no entanto, também podem ter um impacto bastante negativo nas nossas vidas. Podemos criar ou utilizar regras que não são muito precisas ou necessariamente verdadeiras, como “paulistanos são arrogantes”, “homens sempre traem” e agir de acordo com elas, em vez de entendermos que a realidade é muito mais complexa do que essas generalizações. Formulamos regras que podem limitar o nosso próprio bem estar, ao estabelecer um enquadre rígido sobre a vida: “só serei feliz quando ganhar bastante dinheiro”, ou “não posso suportar nenhum tipo de sofrimento”. Muitas vezes, elaboramos regras a partir da nossa própria vivência. Uma criança que sofreu abuso pode criar a regra: “outras pessoas são perigosas”, ou “ninguém é confiável” e permanecer com essa crença a vida toda.
Como as regras muitas vezes são bastante úteis, as empregamos de forma indiscriminada e sem questionamentos ou atualização. Uma regra válida para uma determinada fase da sua vida pode não valer para outra. Uma estabelecida em um ambiente de trabalho pode não se aplicar em outro. Mas como elas um dia funcionaram, tendemos a nos prender a elas. Quando elas não dão mais certo, não percebemos que o problema é a regra e a nossa rigidez: em vez disso, achamos que tem algo errado com o mundo.
Por conta disso, é importante tentar perceber quais são as regras que estão por trás das suas atitudes. Elas são realistas? São úteis? Correspondem ao que a sua vida é no momento? Ou elas são engessadas, desatualizadas e te impedem de se adaptar melhor às mudanças da vida? Questionar as próprias concepções, perceber o quanto nossa percepção do mundo pode ser errada e cultivar a flexibilidade são aspectos importantes para uma vida melhor.