Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade profundamente doente.
Krishnamurti
Decidir fazer terapia é um ato de coragem. Quando você procura um psicólogo para trabalhar as suas dificuldades ou se conhecer, você está dizendo: “eu quero olhar para mim mesmo(a)”, “quero entender isso”, “quero mudar”. Por isso, quando as pessoas vêm para a sua primeira sessão, elas na verdade já iniciaram, por conta própria, um processo de mudança.
Fazer terapia já foi um tabu. Parecia algo reservado para quem tinha algum transtorno mental grave e poderia ser visto por outras pessoas como um estigma. Embora eu ainda perceba um ou outro foco de preconceito, acredito que se tornou algo que já faz parte da nossa cultura. Percebo isso inclusive pela variedade nos perfis de pessoas que atendo ou já atendi: poucas delas têm quadros mais sérios; na sua maioria, são pessoas como eu e você, tentando passar bem pela vida e ser felizes.
Eu mesmo fiz terapia por um bom tempo, em dois momentos diferentes. Além da ajuda pessoal, foi importante no aspecto profissional: se eu seria um terapeuta, precisava saber como é estar do outro lado. Minha terapeuta foi e é um modelo até hoje. Nem sempre foi um processo agradável; por diversas vezes me senti mal. Mas o ganho sempre superou as dificuldades inerentes a movimento de olhar para si mesmo, questionar-se e mudar.
Admitir que se tem uma dificuldade ou pedir ajuda pode ser visto como um sinal de fraqueza. Para mim, é o contrário: é um sinal de caráter e força. Já vi muitas pessoas que se beneficiariam muito de terapia, mas não tinham essa premissa básica, que é a de conseguir reconhecer que poderiam ser diferentes e viver melhor. É uma pena, pois por medo de olharem para si mesmas, podem acabar se condenando a uma vida de infelicidade e amargor. Por outro lado, quando a pessoa percebe que pode ou precisa mudar e vai atrás disso, já começou a melhorar. Cabe ao terapeuta acompanhá-la e ajudá-la nesse caminho que ela iniciou.
Como a frase que inicia esse texto diz, o fato de termos uma dificuldade não significa que há um problema em nós: muitas vezes o problema pode ser o mundo em que estamos e a nossa relação com ele. Vivemos em um ambiente que pode ser selvagem, que incita a competição, o ódio, o consumo, fazendo com que nos sintamos inadequados no processo. É bastante comovente para mim quando atendo pessoas fantásticas, que poderiam estar vivendo muito bem consigo mesmas, mas que foram levadas a acreditar que são erradas, problemáticas, feias, incapazes. Diversas vezes tive o privilégio de acompanhar essas pessoas e ajudá-las a se aceitar. Com isso, elas podem parar de se esconder, de agir por medo do que os outros podem pensar. Elas se permitem deixar os temores de lado e seguir na direção que desejam, como a pessoa que assume a sua homossexualidade apesar do medo do preconceito, a que resolve abrir seu próprio negócio apesar do medo de não dar certo, a que decide mudar de cidade ou país apesar do medo da perda. Nesses casos, as pessoas estão se tornando aquilo que elas são, que é algo emocionante de presenciar.
Nós psicólogos costumamos dizer que terapia é um investimento em si mesmo. Parece um papo meio marqueteiro, mas é verdade. Ir para a terapia — para aquele espaço que é totalmente seu, em que você pode se colocar como você é, sem esconder nada, sem medo de julgamento — é reconhecer o seu próprio valor. Significa que você percebe a importância da sua vida, do tempo que você tem, e quer aproveitá-la da melhor maneira possível. O terapeuta é a pessoa que vai estar ao seu lado por uma parte do seu caminho, para lhe ajudar a traçar o percurso que você escolher, superando obstáculos e aproveitando a jornada.
Obrigada, Rodrigo.
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God bless You.
Ola Rodrigo. Compartilhei seu texto no meu face e varias pessoas retransmitiram. Achei fantástico por tratar-se de não-psicólogos, mobilizados por sua mensagem que lhes causou interesse. Gosto do seu jeito de escrever, parabéns e um abração. Ciça
Puxa, Ciça, bom saber. Muito obrigado. Grande abraço.
Oi Rodrigo! Já havia lido este seu texto anteriormente e o achei ótimo. Além de muito bem escrito, você conseguiu trazer de forma clara e concisa os aspectos que a terapia exige e tem a oferecer para o paciente. Estou compartilhando o link/fonte com a minha rede de contatos. Abs!
Oi, Priscila!
Fico feliz que tenha gostado. Muito obrigado pela divulgação!
Um abraço.