“Ajudas” que não ajudam

Da mesma forma que não gostamos de sofrer, também não gostamos de ver as pessoas próximas em sofrimento. Quando nos deparamos com a dor do outro, ela também nos incomoda e, naturalmente, queremos que ela vá embora. Ainda que a intenção seja boa, muitas vezes tentamos fazer isso de maneiras que não apenas não resolvem, como podem aumentar o sofrimento. As falas abaixo descrevem algumas dessas formas de ajuda que não ajudam.

1. “Por que você não faz…”

Oferecer soluções é uma das respostas mais naturais frente a algo que enxergamos como problema. Só que nem sempre a pessoa está precisando de uma solução — é bem provável, inclusive, que ela já tenha pensado em muitas alternativas. Nem todo sofrimento se refere a algo a ser feito; às vezes o nosso sofrimento até é causado por estarmos sempre tentando resolver tudo.

2. “Você precisa mudar sua maneira de pensar”

Infelizmente, isso não é algo simples. Podemos, de fato, ter uma visão muito negativa das coisas. Mas isso geralmente é consequência de anos de condicionamento dentro de uma cultura, uma família, das nossas próprias experiências. Também não estamos acostumados a olhar para nossos pensamentos com distanciamento ou crítica. Ainda que essa ajuda possa ter algum fundo de sentido, não é algo possível de se fazer do dia para a noite, ainda mais quando estamos sofrendo. E, em muitas situações, a dor não tem a ver com nosso ponto de vista, mas por ser simplesmente uma causa universal de sofrimento, como a perda de alguém.

3. “Tem gente em situação muito pior”

Por mais que racionalmente saibamos que sempre existirão pessoas em situação melhor ou pior do que a nossa, a nossa experiência de sofrimento é única. Ouvir isso não só não ajuda como faz com que nos sintamos inadequados por estarmos sofrendo.

4. “Você não tem motivo pra se sentir assim”

Essa é uma extensão do comentário acima. Podemos ouvir que temos tudo que precisamos e, por isso, não deveríamos sofrer. Entretanto, as emoções não funcionam dessa forma. Uma vida confortável materialmente não significa que não vamos sofrer. Ouvir isso faz com que nos sintamos invalidados, incompreendidos e culpados.

5. “Esquece isso, deixa pra lá; supere”

Acreditamos, falando isso, que basta mudar de assunto ou não falar sobre o sofrimento que ele desaparecerá. O resultado é que a pessoa se sentirá ainda pior por parecer estar trazendo à tona algo que incomoda e se sentindo um peso. É bem possível que ela pare de falar, mas não que o seu sofrimento desaparecerá. Ela apenas passará a sofrer sozinha.

6. “Vamos tomar uma pra você se sentir melhor”

Podemos sugerir algum tipo de fuga para que a pessoa se sinta melhor. De fato, certas distrações podem trazer alívio a curto prazo, mas dificilmente eliminam o sofrimento a longo prazo. E, pior, muitas delas podem gerar efeitos negativos a longo prazo ou colocar a pessoa em risco.

Como lidar, então, com o sofrimento do outro? O primeiro passo é o de validação. Isso significa partir do princípio de que o sofrimento do outro é legítimo e tem razão de ser. Não é frescura, falta de visão ou egoísmo. O sofrimento, então, não é visto como um problema a ser resolvido — pelo menos não de imediato — mas sim algo a ser reconhecido. “Sei que essa é uma situação difícil”, “acredito que eu estaria me sentindo da mesma forma se estivesse no seu lugar”, “consigo entender que você se sinta assim com o que aconteceu”, “você quer me falar mais sobre como está sendo pra você?” são frases de validação. Claro, elas só fazem sentido quando são ditas de forma verdadeira.

Outra atitude, que pode nos parecer pouco natural, é simplesmente estar com a pessoa e o sofrimento dela. Reconhecemos o direito que ela tem de estar em sofrimento. Não o enxergamos como algo a ser resolvido ou afastado. Significa, então, que aceitamos estar com a pessoa no momento de dor, compartilhando-a. Buscamos dividir o fardo com ela. Certamente é o caminho mais difícil, mas talvez seja o melhor que podemos oferecer para quem está sofrendo.

Foto: Mishal Ibrahim

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