Se ter sintomas de estresse e dificuldades emocionais é uma parte integral de ser humano, então está terrivelmente errado usar a ausência de sintomas como um critério para saúde psicológica. (…) Nunca se demonstrou que tratamentos focados em eliminar sintomas de fato os eliminam. Uma forma melhor de descrever os resultados desses tratamentos é que eles reduzem os sintomas para baixo de um nível arbitrariamente estabelecido que divide o que é normal ou não. Só que essa redução nunca foi associada com resultados da vida real, como a probabilidade de retornar ao trabalho, melhora nos relacionamentos ou na integração com a comunidade. (…) Na perspectiva da terapia de aceitação e compromisso, o foco é viver uma vida de acordo com os valores pessoais, mesmo que isso cause sintomas emocionais. Kirk Strosahl
Uma das percepções mais inadequadas que temos em relação às nossas emoções e sensações negativas é que elas são ruins e devem ser eliminadas. Acreditamos que, só quando não sentirmos mais estresse, ansiedade, tristeza ou frustração, estaremos bem. A partir dessa concepção, usamos uma série de estratégias para nos livrar desses sentimentos, ou “sintomas”. É comum recorrer a substâncias — como álcool, maconha e medicamentos — ou comer, trabalhar e jogar em excesso, na esperança de não sentir aquele incômodo. Mas, ao focar nos sintomas sem olhar para as suas causas, estamos errando o alvo. Quanto nos sentimos irritados, tristes, ansiosos ou frustrados, isso é um sinal de que há uma discrepância entre o que estamos vivendo e como gostaríamos que a vida fosse. A tristeza pode surgir das perdas que enfrentamos ao longo da vida. A ansiedade aparece quando nos deparamos com situações que acreditamos que teremos dificuldade em superar. O estresse pode ser um indicativo de que estamos recebendo mais pressão do que aquela com que conseguimos lidar. Só que ao invés de termos a resposta automática de remover esses sentimentos podemos olhar para aquilo que o estresse, a tristeza e a ansiedade estão nos apontando e encará-los como aliados. Como? 1. Use os sintomas como um guia para mudança. Tente entender o que os sintomas estão lhe dizendo. Se você tem os mesmos sentimentos negativos constantemente, é sinal de que existe algo na sua vida que não está bom de forma quase permanente. Em vez de tentar o sentimento, use-o como uma lanterna para iluminar o problema real. Pode ser um emprego, um relacionamento, um problema mal resolvido com a família. Pode ser que você consiga fazer isso por conta própria, ou talvez você precise de ajuda, como a de um psicoterapeuta. Ao compreender a raiz do problema, você pode fazer alguma coisa sobre ele. 2. Às vezes, mudanças podem gerar sintomas. As dificuldades podem aparecer justamente quando estamos buscando alguma mudança. Tentar lidar de uma forma diferente com o seu trabalho ou a sua família pode causar dificuldades. Talvez você encontre pessoas resistentes à sua mudança. Talvez você sinta ansiedade ao arriscar algo que nunca tentou antes. É importante perceber, nesses momentos, que os sintomas emocionais são justamente o indicativo de que você está avançando, como uma espécie de dor do crescimento. Eles são saudáveis. 3. Ajuste suas expectativas. Há situações que nos causam sofrimento e cuja resolução está fora do nosso alcance. Por exemplo, quando perdemos algo, como uma pessoa ou uma oportunidade, ou quando os outros não agem da forma como gostaríamos. Nesses casos, a mudança necessária é o ajuste das nossas expectativas em relação ao mundo. Isso envolve a aceitação de que não podemos voltar no tempo e que as pessoas à nossa volta estão simplesmente sendo elas mesmas, por mais que isso possa nos desagradar. Viver numa fantasia de que tudo deveria ser como desejamos é algo que pode causar muito estresse. Por fim, é importante não termos essa visão de que uma pessoa saudável é uma pessoa que não sofre, que não sente nada negativo. Viver causa dificuldades, incômodos e sofrimento. Sentir tristeza, raiva e frustração significam, simplesmente, que seu coração está batendo. Referência Strosahl, K., Robinson, P., & Gustavsson, T. (2012). Brief interventions for radical change: Principles & Practice of Focused Acceptance & Commitment Therapy. Oakland: New Harbinger.